sábado, 6 de março de 2010

Odùdúwà

Odudua, também considerado entidade FUNFUN, recebeu de Olorum, o elemento terra, com o qual ela criou o AIYÉ. Sua cor é preta (azul escuro), por ser representante do AIYÉ. Oxalá e Odudua (ODUDUWA) são cultuados no mesmo dia (sexta-feira) e em alguns terreiros, os dois conceitos são confundidos.


O arquétipo do filho de Odudua, do ponto de vista físico, é semelhante ao tipo Oxalá. São magros, franzinos, nervosos e secos como a terra. Mas ao contrário do tipo Oxalá, os filhos de Odudua são violentos e agresssivos, fechados, inseguros e angustiados, tornando-se às vezes susceptíveis, impacientes, intolerantes e desconfiados. Invejosos, vingativos, perseguem aqueles cuja felicidade ou êxito é para eles uma afronta. Sabem manipular os outros e toda sua força está em uma inteligência curiosa, de senso crítico e de ironia ferina. É dominador, autoritário e no trabalho é exigente, perfeccionista e minucioso.


Odudua é mais um personagem histórico que Orixá. Guerreiro temível, invasor e vencedor dos IGBÔS. Fundador da cidade de Ifé e pai dos reis de diversas nações Iorubás.

Odudua tornou-se objeto de culto após sua morte, estabelecido no âmbito dos cultos dos ancestrais.

AS PESSOAS QUE CULTUAM ODUDUA NÃO ENTRAM EM TRANSE. ORA, A ENTRADA EM TRANSE É CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL DO CULTO AOS ORIXÁS.


Odudua teria vindo do leste, no momento das correntes migratórias causadas por uma invasão berbere no Egito. Esse fato provocou deslocamentos de populações inteiras, expulsando-se progressivamente, uma às outras, em direção ao oeste, para terminar em BORGU, também chamada região do Egito ou mesmo de MECA e, segundo outros, de um lugar perto de Ifé, chamado OKÉ-ORA, onde os invasores teriam habitado durante várias gerações.


Precisamos falar aqui das extravagantes teorias do Padre Baudin e dos seus compiladores, encabeçados pelo Tenente-Coronel A. E. Ellis, sobre as relações existentes entre Obàtàlá e Odudua. Mal informado e dotado de uma imaginação fértil, o reverendo padre expôs no seu livro sobre as religiões de Porto Novo (que não é país Iorubá) informações erradas, às quais nos referimos nos escritos sobre Xangô e Iyemojá.


O Padre Baudin feminiliza Odudua para fazer dele a companheira de Obàtàlá (ignorando que este papel era desempenhado por Iyemowo). Fechou este casal Obatalá-Odudua (formado por dois machos), numa cabaça e construiu, partindo dessa afirmação inexata, um sistema dualista, recuperado com proveito por posteriores estruturalistas, onde Obàtàlá (macho) é tudo o que está encima e Odudua (pseudofêmea), tudo o que está embaixo; Obàtàlá o espírito e Odudua a matéria; Obàtàlá é o firmamento e Odudua a terra.


A obra de Baudin, copiada por Ellis, foi o ponto de partida de uma série de livros escritos por autores que se copiaram uns dos outros sem colocar em questão a plausibilidade do que fora escrito por seus predecessores. O padre Labat constatava já com certa ironia em 1722 que certas informações foram dadas por uma quantidade de autores e acrescentava: "mas talvez seja a opinião daquele que as escreveu primeiro e que os outros seguiram copiando sem se inquietarem se elas estavam bem ou mal fundamentadas". A respeito de Odudua, acumulou-se com o tempo uma vasta documentação escrita, tida como erudita porque é constituída de textos inspirados por escritos inexatos e contrários à verdade.


Esta tradição "erudita" continuou a reinar entre os pesquisadores na África. O padre Bertho publicou em 1950 um artigo, onde ele declarava ter visto em Porto Novo, no antigo Palácio Akron, um altar dedicado ao casal de divindades Lissá-Odudua. Lissá era representado por uma cabaça branca na frente de um muro pintado de branco, enquanto Odudua o era por uma cabaça preta sobre um muro preto.


A realidade era outra. O padre Bertho fizera uma terrível mistura, pois Lissá é para os fons, o nome de Orixalá dos Iorubás, como Odudua o é para os habitantes de Porto Novo. O par era formado por uma única divindade. Havia, na realidade, uma cabaça branca e uma parte do muro pintada de branco, mas era para Dudua (que segundo Bertho, seria preto). Quanto a cabaça preta e o muro preto, eles eram avermelhados, em homenagem a Xangô.


Lembramos que há, entretanto, um casal do qual faz parte Orixalá, mas sua mulher é Iyemowo. Ela pode ser vista sob forma de imagens, no Ilésin do templo de Obàtàlá-Orixalá, em Ideta-Ilê, em Ilê Ifé. Estas mesmas divindades levam os nomes de Lissá e Mawu, adotados pelos fons. Elas são adoradas no templo do bairro Djena, em Abomey e simbolizam: "Lissá, o princípio masculino, com o oriente, o dia e o sol, e Mawu, o princípio feminino, com o ocidente, a noite e a lua". Mas, na verdade, eles correspondem ao casal Orixalá e Iyemowo e não Orixalá e Odudua.