Estas informações são necessárias para entendermos o que significa o termo nação no candomblé. Uma nação de candomblé identifica-se pela maneira como realiza seus rituais, pela língua do ritual, pelo conjunto de mitos nos quais baseia seus ritos, pela maneira como toca seus tambores, pelas cantigas que canta, pelas cores que usa no vestuário dos orixás, pelas folhas sagradas que usa em suas iniciações e magias, enfim, por um corpo de práticas, símbolos e cultura material herdado dos antepassados. Devido ao intercâmbio cultura na própria África, a cultura destes grupos e portanto também seus cultos religiosos, chegavam ao Brasil já mais ou menos misturados, o que desmitifica a idéia de pureza quanto a esta ou aquela cultura ou nação de candomblé. Tal miscigenação teve continuidade na América, devido à aproximação íntima que a situação de cativeiro provocava. Até as línguas se misturavam, numa espécie de idioma auxiliar, capaz de associá-los mais solidamente num mesmo sentido de compreensão e fraternidade. Todo Terreiro (templo) de candomblé pertence a uma “nação”. Foi em virtude das origens comuns e das associações de grupos de origem semelhante, que os cultos Afro-brasileiros se aglutinaram em basicamente três ritos (nações) religiosos: 1 Ketu, 2 Angola, 3 Jeje.
Candomblé Ketu
O candomblé que se auto denomina “de nação Ketu”, é o candomblé descendente dos cultos religiosos da região Sudanesas, de cultura yorubana. Neste culto, os deuses são chamados de orixás e representam forças da natureza como o ar, o vento, o fogo e outros. A língua ritual destes cultos é composta de fragmentos de iorubá arcaico e de alguns termos de outras línguas com as quais foi se mesclando no decorrer do tempo. Toda a simbologia do candomblé Ketu como ritmo, cores, cantigas (rezas) músicas, comidas rituais e, fundamentalmente, o rito de iniciação, são marcados fortemente pelos valores culturais dos negros yorubanos. Originários desta cultura também são o “batuque”(forma que assumiu no Rio Grande do Sul, onde é considerado Jeje-Nagô) e o “Xangô” de Pernambuco. Famosos mães pais de santo dessa nação que reside em São Paulo.
Candomblé Angola
Este candomblé é resultado da presença dos negros bantos, da região Congo – Angolesa da África, cujos deuses que cultuam chamam-se Inkices.
Também os Inkices são a divinização e personificação da natureza na forma humanizada. As características rituais do candomblé Angola diferem das características do candomblé Ketu, mas a forma do ritual e da iniciação se assemelham muito. Como característica intrínseca da cultura banto, mais propensa à assimilação de valores estrangeiros, o candomblé Angola é fortemente marcado pelos valores brasileiros.
Isto pode ser notado na língua ritual, o Kimbundo ou Umbundo, línguas angolanas, muito mescladas ao português, e pelo culto de entidades “brasileiras” como os caboclos (índios) e boiadeiros. Outras formas religiosas derivadas deste grupo são a cabula, a macumba, o candomblé de caboclo, o catimbó, a pagelança e a cura. Estes últimos mais sincretizados com os valores indígenas brasileiros e predominando no Norte e Nordeste brasileiros.
Candomblé Jeje
O candomblé Jeje é minoritário no Brasil. Seus deuses são o voduns, cultuados como nobres famílias mitológicas, associadas cada uma delas aos elementos da natureza. Seu ritual difere muito dos dois anteriores em todos os sentidos. Na região do Pará e do Maranhão este culto tomou uma forma específica, conhecida como “tambor de mina”. O termo “mina” se referem à origem dos escravos que o trouxeram para o Brasil, que permaneciam presos no forte português São Jorge da Mina, na África Ocidental, até o embarque para o Brasil.
Além destas, existem várias combinações destes três tipos básicos, que são formadas a partir do trânsito dos religiosos entre um e outro grupo. Na maioria dos cultos um modelo de rito pode ser apreendido tomando-se como paradigma o rito Ketu. É dele que falamos aqui.